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Projeto de programa do Socorro Vermelho Internacional

Após muitas décadas de repressão e resistência, a continuação do regime fascista em Espanha desenvolveu sentimentos e vínculos de solidariedade muito enraizados, os quais se têm exprimido de diferentes maneiras.

Hoje comprovamos que essa torrente de solidariedade antifascista continua a existir; o que não existe é uma organização que o reforce, o consolide e o transmita.

É por isso que é necessário reconstruir o Socorro Vermelho Internacional!

O Socorro Vermelho Internacional possui uma história lendária:

Nasceu nos anos vinte do século passado pelo impulso da III Internacional para se opor ao fascismo só incipiente nesse momento. Entre seus diligentes fizeram parte mulheres antifascistas tão conhecidas como a alemã Clara Zetkin, a italiana Tina Modotti e a russa Elena Stasova. Assim, o Socorro Vermelho Internacional ligou-se diretamente com a história do movimento comunista e antifascista internacional, atingindo rapidamente um grande desenvolvimento em todo o mundo, ressaltando no apoio político, jurídico e económico a todas as vítimas de represálias, sem diferenças ideológicas ou partidistas.

Em Espanha, desenvolveu-se depois da insurreição de Asturias em 1934 para enfrentar a dura repressão desencadeada pela reação e conseguir a liberação do grande número de encarcerados que carreou.

Depois da guerra foi dissolvido pelo fascismo e aos seus militantes foram-lhes tomadas represálias.

Em 1975, impulsado pelo PCE(r), houve um primeiro intento de refunda-lo clandestinamente. Nasceu ligado à luta pela amnistia, tão decisiva naquela época, como componente destacada da luta contra a reforma franquista. O Socorro Rojo editou seu próprio boletim, «Solidaridad», e contou entre seus colaboradores com atores, médicos e enfermeiras, advogados e outros muitos intelectuais e artistas, para além dos familiares e amigos das vítimas das represálias. A experiência durou até 1981, já que a Polícia assanhou-se com seus membros, os quais foram perseguidos, detidos, e torturados, e sua propaganda foi confiscada. slot gacor dunia777 maxwin

Não se pretende olhar ao passado sem mais, mas nos momentos cruciais como os atuais devemos ter em conta o legado que nos oferece a memória histórica.

Criaram-se outro tipo de organizações que desempenham um meritório trabalho pela amnistia para os presos políticos, contra a tortura, em defesa da liberdade de expressão, etc. Esses pequenos (mas numerosos) grupos os compõem amigos, vizinhos e familiares das vítimas das represálias e estão muito condicionados pelo motivo concreto que os leva a se formar.

Todas elas, em que pese ao extraordinário valor de seu trabalho, dispõem de evidentes limitações, porque são organizações ora locais, ora parciais, ora restringidas ao âmbito humanitário. Estas mostram a dispersão e o localismo extremo do movimento solidário com o qual é preciso terminar para a solidariedade se estender.

Fazemos parte integrante da resistência antifascista.

Nós queremos criar uma organização que faça parte da resistência contra o fascismo; uma organização política, não somente de denúncia, senão de luta. O Socorro Vermelho Internacional pretende reforçar e consolidar os grupos solidários já existentes, mas duma maneira organizada que ofereça continuidade e seja capaz de transmitir o ânimo solidário a todas as vítimas das represálias.

Essa tarefa é hoje imprescindível. Não nos podemos resignar com o movimento tal como o temos conhecido estes últimos anos. Temos de dar um passo a frente porque as tarefas que se avizinham (o retorno das mais cruas expressões do fascismo e a guerra imperialista) assim o impõem.

Precisamos um Socorro Vermelho Internacional ligado estreitamente às lutas anti-imperialistas de todo o mundo, ao movimento revolucionário da classe obreira e à defesa e recuperação de todos os direitos e liberdades democráticas.

Não nos podemos limitar a conceber uma agrupação mais especializada em campanhas, nas ocupações de mera agitação, de modo que nos faça perder a natureza do nosso objetivo: desenvolver a solidariedade com a resistência, organizar a luta contra a repressão em sua denúncia permanente contra o terrorismo de Estado e o fascismo. Pelo qual, julgamos como uma prioridade tecer uma organização, estabilizar uma amplia rede solidária capaz de encarar a repressão.

As campanhas são para nós uma ferramenta, não um objetivo em elas mesmas. As campanhas devem-nos ajudar a expandir o nosso projeto e consolidar as nossas posturas.

Uma organização política

Para fazer parte integrante da resistência antifascista, há que terminar com a propensão humanitária na qual costumam cair todas as organizações de solidariedade e, portanto, devemos exprimir a origem, causa e natureza da repressão que sofremos, que não é outra que o regime fascista que prevalece em Espanha desde 1936, e como combater contra esta repressão.

A luta contra a repressão moldura-se dentro de um ambiente de luta contra o fascismo. Acha-se entre as nossas tarefas situar a luta contra a repressão em seu exato e profundo conteúdo político, o que nos leva a assumir e apoiar umas reivindicações democráticas mínimas, e a nos consciencializar do fato nós constituirmos uma mesma parte do conjunto do movimento revolucionário.

Justamente, pelo destacado papel na luta contra o terrorismo de Estado, o Socorro Vermelho Internacional desvia-se radicalmente de qualquer prática contaminada pelo reformismo ou que se exprima a través de atitudes espontâneas, desorganizadas, ou desvinculadas de objetivos concretos, que tornam inútil e inócua qualquer denúncia ao regime. São estas práticas reformistas as quais temos a obrigação de desmascarar e aniquilar do seio do movimento.

Definitivamente, estamos a plantear o inevitável carácter político da luta contra a repressão. A solidariedade com os presos, a denúncia do Estado, a luta contra o terror fascista, simplesmente não se pode fazer desde uma ótica «apolítica», à margem do compromisso que nos obriga a ligar-nos com a mesma resistência, porque fazemos parte de essa resistência. O movimento contra a repressão deve ser assumido como mais um frente de luta do conjunto do movimento popular e revolucionário.

O Socorro Vermelho Internacional tem a função de organizar amplos setores populares na denúncia ao fascismo, do caráter cada vez mais fascista dos estados «democráticos» e dos instrumentos («legais» e «ilegais») judiciais, policiais ou legislativos (também económicos, sociais…) dos quais se prestam para impor seus planos de exploração e opressão e eliminar qualquer surto de dissidência ou contestação. O Socorro Vermelho Internacional deve ser um meio pelo qual consciencialize entre cada vez mais amplos setores da população, pois ninguém neste contexto está livre da repressão.

Por isso mesmo, devemos nos atrever a definir o Socorro Vermelho Internacional como um instrumento considerado como aglutinante de amplos setores populares. Já que se só o Socorro Vermelho Internacional é um aglutinante, o canal contra a repressão do movimento popular, que organiza e dirige a solidariedade com a resistência, então só o Socorro Vermelho Internacional vai poder expulsar todo seu potencial como arma de denúncia política, só então vai ter sentido quando dizemos que é preciso que a luta contra a repressão seja concebida de maneira unitária, quebrando sectarismos estéreis e paralisantes, clarificando posições e atuando internacionalmente, do modo coordenado.

Os presos políticos desempenham um papel fundamental em qualquer movimento solidário. Mas não devemos tratá-los com vitimização e lamentando sua situação. Não têm de converter-se em objetos de devoção que possam ser utilizados, mas não sejam tidos em conta. É nosso dever fazer que os presos revolucionários tenham voz própria no seio do movimento, na rua. Como sujeitos, os presos continuam a exercer sua tarefa militante. Estão entre nossos principais labores exigir e conseguir sua liberdade, arrancá-los das cárceres; mas deve ser essencial facilitar o máximo contato entre a rua e o interior das prisões. O preso também deve participar, como qualquer outro, no debate político, e nós devemos garantir-lhe esta participação.

Devemos ter presente a condição de «presos políticos» dos militantes revolucionários encarcerados, e a reclamação do reconhecimento de sua condição é parte da batalha política que devemos arrancar ao Estado.

Constituímos uma organização independente y democrática

Quando falamos de organização somos conscientes das caraterísticas próprias que deve ter um movimento como o nosso, que nunca deve ser centralizado nem burocrático, senão pelo contrário amplo, aberto a todo tipo de gente que deseje exprimir das mais várias maneiras sua colaboração. O Socorro Vermelho Internacional tem que agrupar membros de todas as ideologias, sem qualquer diferença, porque o regime está a atacar a todo tipo de movimentos políticos e sociais: independentistas, libertários, comunistas, autónomos, pacifistas, etc. Todos eles devem ser apoiados e devem ter aqui um lugar para se defender. É obvio que há todo tipo de diferenças entre eles, mas o que nos une é muito mais profundo: estamos a lutar contra o mesmo Estado fascista, com o que queremos acabar.

Todos esses movimentos e nós próprios fazemos parte de uma mesma luta e, por consequência, devemos nos comprometer ativamente em sua defensa, nos ligar estreitamente a todas suas iniciativas.

Pois bem, o Socorro Vermelho Internacional não depende de mais ninguém que de ele mesmo. Uma organização das nossas características deve estar presidida pela democracia interna, e nossas decisões as devemos tomar nas reuniões e assembleias nas que fiquemos de acordo. É ali que vamos dever discutir e adotar as decisões de maneira democrática, sem consentir ingerências de ninguém.

A nossa força será nossa independência, sem esquecer que essa força deve sê-lo nomeadamente em relação ao Estado fascista, e que não podemos converter-nos numa ONG à moda, das que dizem que lutam quando em realidade vivem das subvenções com as que as manipula e suborna o próprio Estado fascista. Para garantir nossa independência nós não admitimos nenhum tipo de subvenção.

Mas a mais ampla democracia não fica enfrentada com a união e a coordenação mais estreita entre todas as organizações locais e regionais, com o fim de todos marcharmos na mesma direção e para os mesmos objetivos, para o qual é imprescindível a formação de um comité que dirija o trabalho, desenvolva a organização e segure a difusão de nossas publicações.

Não somos um grupo humanitário senão militante. Nossa solidariedade é política porque, em última instância, não defendemos às pessoas vítimas das represálias, senão sua luta consequente através delas. Nossa relação com estas vítimas não é pessoal, porque sejamos amigos, vizinhos o colegas do trabalho, senão que tentamos defender o que representam, sua atividade, seu compromisso e sua luta combatente e comprometida.

Além disso, tentamos ser uma organização unitária. Mas aqui não falamos de envolver quantos mais coletivos e setores melhor, senão de conceber o papel da luta contra a repressão como uma moldura unitária na que devem estar pau a pau todos aqueles setores populares e revolucionários numa perspectiva antifascista e anti-imperialista.

Neste sentido, temos de empreender a iniciativa de abrir um amplo debate entre aqueles setores que realizam um trabalho contra a repressão planteando nossas propostas para unir forças e fortalecer a solidariedade.

Uma organização internacionalista

A necessidade duma organização como a que propomos provém também do curso belicista que têm empreendido as grandes potências por um novo reparto do mundo. Não faz muito tempo que desde todas as frentes mediáticas nos faziam acreditar que depois da desaparição da União Soviética y o campo socialista, a guerra fria tinha acabado e o capitalismo triunfante era um paraíso de progresso e bem-estar, de liberdade e democracia sem igual.

Não têm passado mais de doze anos e a crise económica descarrega-se brutalmente sobre os ombros dos trabalhadores: demissões massivas, precarização do emprego, reduções dos salários, aumento da jornada do trabalho… Todos os danos do capitalismo estão a enfatizar-se e vão ser ainda piores conforme a burguesia os agrave com o fim de financiar as despeças do armamento e a guerra.

É essa mesma perspectiva bélica que conduze a reprimirem com sanha a mínima dissidência para seus planos militaristas e encarcerarem aos antifascistas, comunistas, anarquistas, patriotas e anti-imperialistas; a aquelas pessoas, coletivos, organizações e partidos que não se sometem às regras do capital, nem à cada vez maior progressão para o fascismo de seus Estados; a quem não suporta a fome, a miséria, a repressão e a morte que causa sua atuação na imensa maioria da humanidade.

O imperialismo não pode tolerar a mínima dissidência consequente e, enquanto briga por um novo reparto do mundo com o qual vir à tona de sua endémica crise, incrementa suas medidas repressivas políticas, policiais e de contrainformação ideológica e psicológica, com as quais tenta neutralizar, e se não o consegue, esmagar ao movimento obreiro e popular e suas organizações mais combativas e de vanguarda em qualquer parte do mundo.

Quando a repressão e a agressão armadas atravessam fronteiras e tornam-se eixo das políticas dos Estados capitalistas, também os antifascistas, anti-imperialistas, anarquistas e comunistas; trabalhadores, estudantes, intelectuais e artistas precisam de se organizar internacionalmente para enfrentá-los.

O Socorro Vermelho Internacional é essencialmente internacionalista, se bem que para que este internacionalismo fique firme e fecundo tem de estar radicado e fundamentado no trabalho de cada pais. Por isso é imprescindível cada pais levar a cabo uma ampla labor de organização e denúncia.

Não basta denunciar a repressão e criticar o que não queremos: se vamos ser realmente um movimento político, temos que oferecer uma alternativa do que pretendemos atingir, um Programa que defenda e contribua recobrar os direitos e liberdades democráticas e para o qual esperamos todo tipo de colaborações. Só desta maneira vamos adunar a solidariedade, hoje tão esfumada.

O Programa que propomos discutir e aprovar está a seguir:

1- Medidas contra a guerra imperialista

Paralização imediata dos preparativos bélicos. Saída da OTAN e outros blocos militares agressivos. Defensa da paz, o desarme e a amizade entre todos os povos do mundo. Solidariedade com as lutas anti-imperialistas e defensa de aqueles que são perseguidos por dito motivo. Castigo exemplar para os criminais de guerra. Dissolução da Europol e abolição dos espaços policial e judicial europeus.

2- Medidas contra a repressão

Amnistia para todos os presos políticos e amplo indulto para presos por causas sociais. Eliminação do regime FIES e do isolamento penitenciário. Derrogação da Ley de Seguridad Ciudadana, de Videovigilancia e outras leis especiais; dissolução da Audiencia Nacional, dos tribunais militares e de corpos repressivos, assim como demissões dos torturantes e implicados na guerra suja. Proibição de organizações e prensa fascista e racista.

3- Direitos democráticos

Direito à autodeterminação dos povos e nações oprimidas. Liberdade de expressão, reunião, associação e manifestação sem autorização prévia. Direito de asilo e refúgio para todos os perseguidos por sua luta contra o imperialismo e o capitalismo. Plenos direitos de cidadania para os trabalhadores imigrantes.

4- Direitos sociais

Erradicação do desemprego, proibição da precariedade e redução da jornada laboral. Igualdade da mulher trabalhadora. Subsídio para todos os parados. Habitações dignas e económicas. Direito de ocupação das habitações e terras abandonadas. Locais de uso gratuito para a juventude. Ensino democrático e gratuito para todos e derrogação da LOU. Dissolução do ensino privado e eclesiástico. Separação da igreja e o Estado, proibição de subvencionar confissões religiosas. Liberdade de consciência e prática de culto sem discriminação.

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Você pode pedir Programas ou informação. Ajude a distribui-los e colabore na criação e na extensão de novos Comités na sua localidade. Distribua as informações e denúncias no seu bairro, localidade ou região.

Ajude e colabore com a solidariedade antifascista e internacionalista!!

Informe da situação do Coletivo de Pres@s Polític@s comunistas e antifascistas

O Coletivo de presxs políticxs comunistas, antifascistas e solidários o compõe um grupo de 33 prisioneir@s, 18 homens e 15 mulheres, dos quais 1 é militante do Socorro Rojo Internacional -SRI-, 14 do Partido Comunista de Espanha (reconstituído) –PCE(r)-, e os outros 18, dos Grupos de Resistência Antifascista Primeiro de Outubro -GRAPO-. Além disso, ficam 6 ativistas do SRI em liberdade provisional até juízo, depois de ter cumprido um período em prisão.

A política de criminalização e repressão, na que se inserta a nomeada “Política de dispersão penitenciária”, faz que o Coletivo tenha tido presos até em três países, Espanha, França e Itália, repartidos atualmente em 25 cárceres, todos eles em “Primeiro grado regímen especial” -máximo isolamento-. Dentro dos cárceres nos que coincidem, a maioria deles está em módulos distintos, de modo que na prática cada presa ou preso político do Coletivo acha-se em total isolamento. Dá-se a conjuntura de presos do Coletivo que, levando anos no mesmo cárcere, ainda não se viram nem uma só vez. Além disso, ainda, na maior parte dos cárceres nem sequer os situam nos mesmos módulos junto com outros presos políticos de outras organizações revolucionárias.

Outra situação alarmante e para denunciar é a aplicação de fato da prisão perpétua, ainda que alguns presos já deviam estar em liberdade com a parte proporcional cumprida. Já são 4 os militantes do Coletivo condenados para o resto da vida, mais a Miguel Ángel Bergado Martínez; após 30 anos no cárcere, desde o 8 de maio de 1981, foi-lhe aplicada a “prisão perpétua”, que significou de fato o cumprimento íntegro até o 1 de maio de 2011, quando saiu de Puerto I. -Xaime Simón Quintela: 26 anos no cárcere, condena cumprida, mas foi-lhe aplicada a “prisão perpétua”, que significa de fato o cumprimento íntegro até janeiro de 2015. -Suso Cela Seoane: 27 anos no cárcere em dois tempos; condena cumprida, mas foi-lhe aplicada a perpétua até o ano 2020. Lembremo-nos que foi sequestrado pelos GAL de Roldán no ano 1990, drogado, torturado, e só libertado porque ele não tinha a informação que o Estado precisava. Os seus captores, agentes da Guardia Civil do serviço de informação, não foram condenados, senão ascendidos. -María Jesús Romero Vega: 21 anos no cárcere, condena cumprida. Foi-lhe aplicada a “prisão perpétua” de fato até 2020. -Olga Oliveira Alonso: 21 anos no cárcere, pena cumprida. Foi-lhe aplicada a “prisão perpétua” de fato até 2020.

Quanto à situação sanitária, constate-se que há 6 pres@s, @s quais têm doenças graves e incuráveis, que estão sequestrados de fato: -Manuel Pérez Martínez, Secretário Geral do PCE(r), 67 anos, 18 anos preso em três tempos, doenças oculares muito graves, hérnia de hiato e grave debilidade geral devido à brutal situação de encarceramento e isolamento. É o único máximo dirigente duma organização comunista desde Dimitrov que esteve preso em dois países, unicamente por militância POLÍTICA. Está a ser julgado por todas as ações dos GRAPO dos últimos anos. Absolvido em muitas delas, continua em prisão, condenado a 13 anos, por “omissão de crime”. -María José Ramos Andújar, militante dos GRAPO, 18 anos presa em dois tempos. Precisa de implante de fígado e é doente de VIH, que em situação carcerária não tem nenhum tratamento. Desde 2010 está pendente do implante dum by-pass coronário. Dispersada várias vezes em meio ano. -Manuel Arango Riego, militante do PCE(r), 65 anos; 10 anos preso em dois tempos. Sofre uma grave ciática crónica que lhe impede realizar qualquer labor normal. Graves problemas de mobilidade; precisa da ajuda de outros presos. Hipermedicado. -Carmen Muñoz Martínez, militante do PCE(r). 28 anos presa em três tempos. Sofre câncer de mama, do qual, após ser operada, teve de submeter-se a duras sessões de quimioterapia assim como outras várias de reabilitação, lesivas para o resto de sua saúde. Hipermedicada. -Laureano Ortega Ortega, membro dos GRAPO. 49 anos. 22 anos em prisão em três tempos. Em setembro de 2010 sofreu um ataque ao coração, pelo qual se internou em grave estado; agora medicado e esgotado. Fica em módulo de isolamento em Puerto III, a 2200 Km de sua família. -Isabel Aparicio Sánchez, militante do PCE(r). 57 anos. 8 anos presa em dois tempos. Padece artroses e osteoporose geral, flebite, sinusite grave crônica, catarata, e as vértebras lombares com necessidade de várias operações cirúrgicas para não ficar em cadeira de rodas.

Quanto à situação nos cárceres, as comunicações, as ligações e as visitas são controladas para a maioria absoluta dos revolucionários presos. Em geral, só podem enviar 2 cartas por semana e de 5 a 8 ligações a familiares de 5 minutos exatos cada uma. As visitas duram de 40 a 50 minutos por semana e não são acumuláveis.

Quase todos os militantes do Coletivo sofrem a dispersão geográfica de sua nacionalidade ou região de origem. Os galegos, em cárceres de Andaluzia; os bascos, no mesmo. Os andaluzes, em cárceres do norte, as madrilenas, em Valença, e assim sucessivamente. Este é um castigo aplicado a seus familiares e amigos que vão visita-los, pois para um encontro de 40 minutos, têm de realizar viagens de, por exemplo, 2 dias, com centos de euros de despeças, além dos acidentes que se têm produzido pela dispersão. A situação alimentaria constitui outra ferramenta de tentativa de extermínio. Paparrotada de comida, alimentos caducados (inclusive dados aos presos políticos doentes), supermercados sem fins lucrativos no cárcere com preços proibitivos, muito mais altos que fora; de tal modo que as doenças buco-dentais e de estômago já são uma coisa crônica na imensa parte de eles. Para não mencionar os vários cárceres com pragas de ratas e baratas.

Espanha, 2011.

Dados referentes a 8 de maio de 2011

Transição? Que transição?

Uma das reivindicações mais sentidas pelo massivo e radicalizado movimento de massas de meados dos anos 70 e que a esquerda domesticada, inicialmente, utilizou para suas barganhas com a oligarquia fascista, mercadejando com os fundos e legítimos anseios das massas obreiras e populares, exprimia-se a través da ordem “Corpos repressivos, dissolução!”, que concentrava o odeio extremo para os sádicos torturadores da Guardia Civil e a Policía Armada, especialmente para a seção encarregada da repressão política, a odiada e temida Brigada Político-Social, PBS, autêntico Estado-Maior do terror formado pelos mais execráveis e vis torturadores. Como é sabido, depois da II Guerra Mundial, os países aliados estabeleceram um programa nos países liberados do jugo nazi-fascista, que ia desde a formação dum Governo Provisional integrado pelas forças políticas que se tinham enfrentado, em seus respetivos países, à tirania antifascista, até, nos países com tradição monárquica, um referendum elegendo a forma do Estado (monárquica ou republicana), passando pela depuração do aparato repressivo do Estado e o ajuizamento de aqueles com responsabilidades penais, que seriam julgados por “crimes contra lesa-humanidade”, os quais são imprescritíveis. Nada de isso aconteceu no Estado espanhol.

Considero convenente começar com um exemplo que podia ilustrar sozinho a natureza da reforma fascista. Roberto Conesa é o símbolo mais eloquente da continuidade do fascismo, da sua adaptação a través de mudanças ornamentais que se podem resumir na integração da esquerda domesticada em sua forma terrorista de dominação. Em 1939 Conesa é o encarregado de coar-se no Socorro Rojo Internacional, o que acarretaria a detenção de 13 jovens comunistas militantes das Juventudes Socialistas Unificadas, sob torturas e falsas acusações. Aquelas 13 jovens passariam à história com o nome de “13 rosas vermelhas”. Em 1942 encarrega-se do desmantelamento do aparato de propaganda do PSOE e da UGT, que depois da sua pérfida participação no Golpe casadista, deixou seus militantes de base indefensos ante as hostes fascistas; em dita operação é assassinado Antonio Donoso. Esse mesmo ano Heriberto Quiñones participa na detenção e as torturas, o responsável da estrutura clandestina do PCE no interior. É fuzilado sentado numa cadeira: foi mutilado perante as torturas e sua coluna vertebral foi quebrada. No começo dos anos 50 os antifascistas que estavam nas mãos dele afirmam que depois das piores torturas, sempre usava um tom “paternalista”. A meados dos anos 50, vai embora à República Dominicana para a instrução dos esquadrões da morte do ditador fascista e títere ianque, Trujillo. Em 1977 (dois anos antes tinha sido o encarregado das torturas aos detidos em virtude do decreto-lei antiterrorista de Agosto do ano 75, que acabou com o fuzilamento de 5 antifascistas, 3 militantes de ETA e 2 da FRAP) o nome dele aparece em todas as manchetes de imprensa: ele é o “superagente”, o “supercomissário” Conesa, “aquele que salvaguarda a democracia” que tinha liberado Villaescusa, carniceiro presidente do Conselho de Justiça Militar, e ao oligarca Oriol y Urquijo, partícipe dos crimes de Montejurra no ano 76, que tinham sido sequestrados pelos GRAPO. Todos os detidos de dita organização armada denunciam brutais torturas. O nome dele aparece salpicado em numerosas tramas de terrorismo de Estado. Por exemplo, naquela conhecida como “Operação Mallorca”. Junto com o ministro fascista Martín Villa (atualmente presidente de Sogecable, o que não deixa de ser curioso já que ele mesmo encarregou-se de proteger aos ultradireitistas que, no ano 77, colocaram um explosivo na sede do jornal El País, custando a vida ao zelador do edifício), e ao íntimo dele desde o tempo da sua militância no SEU (sindicato universitário fascista e parapolicial), Mariano Nicolás, organizam o intento de assassinato do secretário general do MPAIAC, Antonio Cubillo, independentista canário refugiado em Argel. O Estado fascista espanhol é pressionado pela RFA a través do agente do BND Werner Mauss, quem veia os interesses das companhias comerciais e aéreas de Alemanha ocidental danados pelos petardos que às vezes colocava o MPAIAC nos aeroportos. Para o assassinato, contrataram um grupo de assassinos assalariados, encabeçados por José Luis Espinosa, “Gustavo”. Este indivíduo já tinha sido infiltrado no PCE(m-l) e na FRAP, assim como na UGT de Murcia para “limpar o sindicato de fascistas”. Cubillo é esfaqueado repetidas vezes ao entrar no portal da sua casa mas, finalmente, consegue salvar a vida, arrastando sequelas para sempre. A mesma operação conduz à detenção, no ano 77, de todo o Comité Central do PCE(r). Cubillo apresentou o mercenário Espinosa a militantes de esse partido e dos GRAPO. A direção do PCE(r) foi condenada, como durante o fascismo franquista, por “associação ilícita” e “propaganda ilegal”. E assim, todo volta para o começo, a Conesa. Os detidos do PCE(r) e dos GRAPO são conduzidos às sórdidas masmorras da DGS, onde têm a “barra”, a “banheira” e outros “sofisticados” e “democráticos” métodos de interrogatório em manos dum especialista como Conesa e seu subordinado mais direto, Juan Antonio González Pacheco, “Billy el Niño”, a esperá-los. Foi chefe da seção antiGRAPO da Brigada Central de Informação até o começo dos anos 80, considerada inclusive entre médios policiais como a mais “dura” da época.

É provável que “Billy el Niño” seja o mais tristemente célebre dos torturadores da BPS, até o ponto de que em um dos capítulos do rançoso e nostálgico seriado Cuéntame é mencionado como personificação da repressão franquista. Aparece já, junto com Conesa, nas torturas dos detidos em Agosto do ano 75, que culminaram com o fuzilamento do 27 de Setembro; o nome dele aparece implicado na matança de advogados laboristas de Atocha, feito assinalado pelo conhecido ultradireitista Ernesto Milá, fundador do Partido Espanhol Nacional Sindicalista sob a proteção do SECED de Carrero Blanco, como o principal instigador daquela matança, na que também aparece o nome de Andrés Casinello (de quem vamos discorrer mais adiante) e de neofascistas italianos implicados na Internacional Negra e a “Operação Gládio”. Em 1980 é assinalado por Manuel Ballesteros como intermediário entre a Polícia e os assassinos assalariados encarregados de realizar as ações de guerra suja durante o juízo pela metralhada do bar Hendayais, que custou a vida a duas pessoas. A metralhada é levada a cabo por três mercenários franceses ex-militantes da OAS, organização paramilitar francesa encarregada de assassinatos, sequestros, desaparições… durante a guerra de Argélia, que levaram a cabo ações ordenadas pelo Estado tanto sob as siglas de Batalhão Basco-Espanhol quanto às dos GAL: Jean-Pierre Cherid e os irmãos Perret. O primeiro também seria o encarregado, entre outros, dos assassinatos de Martín Eizaguirre e Aurelio Fernández Cario, militantes do PCE(r), após o periodista-polícia Alfredo Semprún tivesse assinalado, falsamente, a Eizaguirre de ser o “coordenador do terrorismo europeu”, nada mais, nada menos. Cherid morre quando o artefato que manipulava, destinado ao carro dum refugiado basco, explode. A família do mercenário exigiu ao Estado uma pensão depois seu falecimento. Um polícia, nesse momento em licença, avalizava a petição da família: Juan Antonio González Pacheco, “Billy, el Niño”.

Manuel Ballesteros é outro dos sádicos que dedicou toda a sua vida a destroçar os ossos e os órgãos dos antifascistas, um verdadeiro profissional da tortura. Por exemplo, o filósofo e escritor Vicent Raga, detido no ano 69, na descrição das abjetas e brutais torturas que sofreu por parte de Ballesteros, relata até um simulacro de execução. Isso não é impedimento para ele alcançar em “democracia” os mais altos cargos na luta “antiterrorista”. No ano 81 é nomeado chefe do Mando Unificado da Luta Contraterrorista, uma espécie de Conselho de Seguridade Nacional, um órgão de contrarrevolução permanente “à espanhola”. No ano 81 é cessado pela sua implicação no atentado do bar Hendayais, mas Barrionuevo recupera-o para o ano seguinte para a centralização e institucionalização da guerra suja, primeiro como Chefe de Operações Especiais, e logo, como Diretor do Gabinete de Informação do Ministério do Interior espanhol, cargo que ocupou de 1987 a 1994. Dantes tinha substituído a seu maestro, Conesa, á frente da Brigada Central de Informação e a primeira coisa que faz é colocar nos altos mandos policiais a cães raivosos da BPS como Gómez Sandoval. Este indivíduo, membro da BPS, encarregado da repressão do movimento universitário, aparece também implicado no “caso Scala”, ato de terrorismo de Estado no qual faleceram quatro pessoas, com o qual se pretendia liquidar o movimento anarquista. O caso de Enrique Ruano é eloquente para saber como entendiam pessoas como Gómez Sandoval a repressão do movimento universitário. Este jovem universitário era militante da Frente de Revolução Popular, uma organização pequeno-burguesa, detido em 1969, num momento no que o regime tinha declarado o Estado de exceção ante a onda de lutas obreiras e estudantis. É bestialmente torturado por agentes da BPS, até que falece. Então é arrojado pela janela pelos três assassinos para celebrar que se tinha suicidado. Em 1963, já foi intentado com Julián Grimau. O fascismo lança uma das suas habituais campanhas de intoxicação, ordenada por Fraga, e executada, desde o jornal ABC, por Torcuato Luca de Tena e o já nomeado Alfredo Semprún. Não serve de nada: todo mundo sabe que Enrique Ruano tinha sido assassinado a consequência das selvagens torturas sofridas na DGS. Talvez não seja a coisa mais sórdida e sinistra do assunto: os três polícias que o detiveram, Francisco Luis Colino, Jesús Simón Cristóbal e Celso Galván, receberam em fevereiro de 1969, um mês depois do assassinato, uma “felicitação pelos serviços prestados”. Em total, antes de se retirar como comissários, os três foram vinte e seis vezes condecorados; a maioria das condecorações obtiveram-nas depois de 1975. Celso Galván pertenceu à escolta da Casa Real. Ele e Colino foram logo destinados a cargos de livre designação dentro da Delegação do Governo em Madrid e Simón foi nomeado comissário em Torrejón de Ardoz (Madrid), já com o governo do PSOE-GAL, e Barrionuevo como ministro do Interior. Nunca mostraram o mínimo gesto de arrependimento nem de pesar.

Há aspetos que podem servir perfeitamente para definir um determinado fenómeno histórico. Em 1979 exerce do ministro do interior, sucedendo ao falangista “herr” Villa, Ibáñez Freire, militar condecorado naquele momento com a Cruz de Ferro por Hitler em pessoa. Esse mesmo ano é posto à frente da Direção Geral de Polícia o comissário José Sáinz, colaborador nos quarenta da Gestapo na França ocupada pelos nazis. Mas esse ano 79 deparava mais fatos que desmascaravam de sobra a farsa da “transição”. Poder-se-ia citar o assassinato às mãos dum membro da Guardia Civil da jovem ecologista Gladys del Estal enquanto realizava um protesto pacífico à frente da central nuclear de Lemóniz, crime impune, ou o assassinato de Delgado de Codes, naquele momento Secretário Geral do PCE(r). Mas talvez seja mais ilustrativo o seguinte caso: esse ano aprovava-se uma lei de Autonomia Universitária que tinha gerado graves protestas entre os estudantes. O 13 de Dezembro, em Madrid, morrem os estudantes José Luis Montañés Gil e Emilio Martínez Menéndez a consequência dos tiros efetuados pela Polícia. Ibáñez Freire insulta desde TVE os estudantes assassinados mas, pela primeira vez nos anos da reforma fascista, três polícias são acusados e julgados. Não são condenados. No entanto, dos jovens estudantes são detidos por rodar o documental sobre estes fatos 13 de diciembre, e claro, censurado e sequestrado. Nove anos antes destes crimes, em 1970, o estudante Javier Escalada caia abatido pelas balas assassinas da Polícia nas lutas contra a lei de Ensino, lei com a que graças ao pistolão e o trato de favor, Jesús de Polanco começou amassar a sua fortuna, pelo que não é estranho que o subsecretário de Ensino do fascismo franquista, Ricardo Díez Hochleitner, acabasse num cargo bem remunerado no grupo PRISA. Assim, com o sangue do povo, engraxam-se os grandes monopólios. Cinco anos depois dos assassinatos de José Luis Montañés Gil e Emilio Martínez Menéndez, em 1984, no mesmo lugar dos fatos, produz-se uma manifestação como lembrança aos dois assassinados, que também é reprimida pela polícia. José Luis Carrero Arranz participa em ela. Quando se retira da área, recebe um balaço pelas costas. Felizmente, o disparo da Polícia não afeta a nenhum órgão vital e consegue salvar a vida. No hospital do Instituto de Cirurgias Especiais (ICE), em San Bernardo, onde é operado com sucesso, repete-se uma história já vivida em 1979. Neste momento está no governo o PSOE-GAL e o ministro do Interior é José Barrionuevo, antigo membro do SEU franquista, reconvertido ao socialismo de Felipe González, mas há coisas que não cambiam: dois agentes esperam ao pé da sala de cirurgia ao término da intervenção e obrigam ao cirurgião para lhes entregar a bala que feriu a José Luis Carrero. Nunca se saberá que polícia disparou contra ele.

Outro ex-polícia fascista é Juan Antonio Gil Rubiales, que começou a sua caminhada na repressão em 1971. Justo dez anos depois, encarrega-se da detenção e interrogatórios do caminhoneiro basco, presunto militante de ETA, Joxe Arregui. A infame Lei Antiterrorista oferece 10 dias de incomunicabilidade para mais de 70 polícias rebentarem a torturas ao robusto caminhoneiro. É levado ao hospital penitenciário, no qual se vê com um militante de ETA p-m e um jovem militante dos GRAPO, paralítico após a Polícia o tiroteasse pelas costas, além rematando com um tiro na cabeça ao seu camarada Abelardo Collazo, quando se achava malferido no chão. Eles dois legaram-nos as últimas palavras de Arregui antes de morrer: “Oso latza izan da” -“Foi muito duro”-. As fotografias do corpo arroxeado, inchado, e dos pés cheios de queimaduras de Arregui indignaram à sociedade basca. De entre os mais de 70 implicados, só dois responsáveis diretos foram processados: Julián Marín Ríos e Juan Antonio Gil Rubiales. Foram condenados a quatro e três meses de arresto respetivamente, sem cárcere, assim como três e dois anos de suspenção de emprego e salário; o qual não foi óbice para que, em 2005, Gil Rubiales fosse nomeado Comissário Chefe do Corpo Nacional de Polícia de Santa Cruz de Tenerife. Foi enterrado com honores de Estado, em possessão da Cruz ao Mérito Policial com distintivo vermelho e tendo sido felicitado mais de 70 vezes, tantas como polícias martirizaram a Arregui, pelo seu labor na luta “antiterrorista”.

Outro dos carniceiros de Arregui foi Juan Antonio González García, outro ex-BPS que entrou no corpo um ano depois que Gil Rubiales, no ano 72. Não é o único caso de torturas no que se viu implicado. Um ano antes do assassinato de Arregui, em 1980, é detida Isabel Llaquet, acusada de ser Secretária Geral do PCE(r) depois do assassinato de Delgado de Codes. É brutalmente torturada. Como consequência das lesões sofridas, constatadas por vários médicos, Llaquet teve de internar-se no Centro Municipal de Urgências Pere Camps de Barcelona. O seu traslado a Madrid teve que ser realizado em cadeira de rodas. Em Janeiro de 1983, Isabel Llaquet reconheceu na Audiencia Nacional a Juan Antonio González García como um dos inspetores que a torturou. Segundo o seu relato, foi batida na planta dos pés durante 12 horas, arrancaram-lhe o pêlo do púbis e foi batida sistematicamente nos peitos na chefatura superior de Polícia de Barcelona, onde foi subjugada a interrogatório. Isabel Llaquet foi presa até bem pouco tempo. No entanto, o seu torturador é atualmente o diretor da Polícia Judicial, o mesmo que se viu implicado no “caso Malaya” de corrução e o mesmo que se foi embora de caçada com Bermejo e Garzón. É possível imaginá-los fazendo jocosos comentários sobre como, ao mesmo tempo que animais, também às vezes caçam seres humanos; um, torturando; outro, fazendo vista grossa e ordenando a incomunicabilidade e os “interrogatórios” continuarem, o terceiro negando todo muito sério e enxuto por televisão.

Não foi Arregui o único caso nos anos 80. Um pouco antes tinha sido torturado até a morte José España Vivas, simpatizante do PCE(r) e presidente da Associação de Vizinhos de Alcalá de Henares. Nenhum dos agentes da Brigada de Informação que o assassinaram foram processados; no entanto, sim o foram vários membros da Associação de Vizinhos, depois duma homenagem ao seu colega assassinado. Também, em 1985, é assassinado no quartel de Intxaurrondo Mikel Zabaltza, condutor de autocarros suposto militante de ETA. Nas palavras do capitão da Guardia Civil, Pedro Gómez Nieto, Perote, “perdeu o controle” com a “banheira”. Tinham-no afogado. Jogaram o seu corpo ao rio Bidasoa e afirmaram que se tinha atirado para o rio ao intentar fugir. As análises químicas da água demostraram que a agua do Bidasoa não era a mesma que aquela com a qual tinha sido afogado Zabaltza. Nas torturas e no assassinato participaram mais de uma dúzia de agentes da Guardia Civil. Entre eles, destacam o viciado em cocaína Enrique Dorado, mais tarde condenado pelo sequestro, torturas e assassinato dos jovens Lasa e Zabala, depois serem delatados ele mesmo e Felipe Bayo pelo narcotraficante “Txofo”, e Gonzalo Pérez García, enviado a Iraque em matéria de repressão e executado pela resistência iraquiana. Pedro Gómez Nieto, quem informou a Perote do assassinato, era cinco anos depois, em 1990, um dos membros do “Grupo Omega” ou “Los Pata Negra” da Guardia Civil, baixo ordens diretas do ladrão e assassino Roldán. Nesse ano sequestram, torturam e drogam ao militante dos GRAPO Suso Cela Seoane, ao qual querem sacar informação sobre o sue irmão Paco. Pedro Gómez Nieto foi julgado por esses fatos. Hoje em dia, é adido da embaixada espanhola em Honduras, com um salário próximo aos 6000 euros mensais. Esse mesmo ano de 1990 Suso Cela foi detido e torturado pela Guardia Civil, esta vez leGALmente. Atualmente continua em prisão, sequestrado. Devia estar em liberdade, mas tem sofrido retroativamente a draconiana “Doutrina Parot”.

Outro exemplo paradigmático da verdadeira natureza da reforma fascista pode-se personificar na figura do comissário José Matute. Inspetor Chefe da Brigada de Investigação Político-Social de Santa Cruz de Tenerife, matou numa sessão de tortura ao militante do Partido de Unificação Comunista de Canárias, Antonio González Ramos, no fim de outubro do ano 75. A autoridade judicial investiga o caso, reconhecendo no sumário que Matute e os sequazes dele tinham chegado a ameaçar, para manter o silêncio, a colegas do corpo e a um agente da Guardia Civil com frases como “silêncio ou execução”, ou “mais vale um cobarde vivo que um valente morto”. Nesse momento, Matute também tortura a Manuel Trujillo Ascanio, militante da Liga Comunista Revolucionária. Nesse caso sim é julgado e condenado a cinco meses de arresto, seis anos de desterro de Tenerife e o pago duma multa de 75000 pesetas. Não chegou cumprir nenhuma das sanções: no ano 77 aplica-se a Lei de Amnistia. Mais que uma brincadeira de mau gosto: a mesma amnistia pela que deram a sua vida militantes como Antonio González Ramos servia para amparar e proteger a seus verdugos, para que tudo seguisse igual. Matute aparece no ano 83 na gigantesca operação de rastreios e registos massivos que se desenvolve no madrileno bairro do Pilar. Não se retirava sem antes protagonizar um divulgado escândalo, a agressão a um dos seus superiores, o polícia Mariano Gala.

Não me posso esquecer de outro torturador da BPS, ascendido a meados dos anos 80 a máximo responsável da luta “antiterrorista” pelo PSOE-GAL, Jesús Martínez Torres. Manuel Lucas de Pedro, estudante de Medicina de 21 anos quando foi detido no ano 1971, e hoje casado, com um filho, e médico na localidade saragoçana de Daroca, relata a El País: “Martínez Torres pertencia à fornada que chegou em 1970. Até esse momento estavam somente os clássicos, costumados ao movimento obreiro. Mas estes novos atuavam já sobre o mundo universitário e começavam infiltrar gente. Perante os 10 ou 12 dias que duraram os meus interrogatórios, a base de surras, era ele que os dirigia. Não tinha bigode, mas o tenho identificado plenamente”, assegura. “Parecia que levava a responsabilidade, ainda que sovava igual que o resto. A verdade é que havia outros mais brutos, este era é um metido. Às vezes rompia as declarações, se não gostava delas”. Ao mesmo jornal, David Ubico Soler, trabalhador do metal, que então tinha 24 anos e que, como militante do Partido dos Trabalhadores (PT), participava numa reunião preparatória das eleições para enlaces dos sindicatos verticais quando foi detido: “Martínez Torres não era dos que mais surravam, senão dos que dirigiam e coordenavam os interrogatórios dos distintos quartos e, por exemplo, fazia-te ouvir gritar ao colega do quarto do lado. Ou te dizia: “Ouves como chama à mamã?”. Martínez Torres ia com uma porra na mão, que às vezes usava. O que mais surrava não era ele, senão outro que ainda segue aqui. Martínez Torres dava-te um golpe, soltava uma frase cínica e ia-se embora. Também foi um dos que me levaram ao monte, a um buraco, e ao ver a propaganda não estar pronta, faziam insinuações com a pistola que dava medo… […]. Há oito ou dez meses, na televisão, dando a mão ao Rei. Foram só dois segundos , mas eu reconheci-o. Não o comentei com ninguém, exceto com a minha namorada, mas quando há pouco vi a foto em El País já não pode conter-me e escrevi a carta ao jornal”. Mais de 20 pessoas reconhecem-lhe como torturador. Ninguém se atreveu a julgá-lo, claro.

Há três casos que acho importantes para lembrar e ter em conta. Um é o espancamento até a morte do anarquista Agustín Rueda, no cárcere de Carabanchel em 1978, após ter descoberto um túnel na prisão. Depois dum ano os responsáveis do assassinato (Carlos Cantos Rueda, diretor, António Rubio, subdiretor, Barrigón, médico da prisão, Luís Lirón de Robles, chefe de serviços, José Luís Esteban, carcereiro, Alfredo Mayo, carcereiro, Javier Flores, carcereiro, junto com outros carcereiros) foram postos em liberdade por Landelino Lavilla e Rodolfo Martín Villa. Dez anos depois da morte do recluso anarquista, a Audiência Provincial de Madrid considerou que o espancamento de Agustín Rueda era “um delito de imprudência temerária com resultado de morte”. Condenou-se a dez anos de cárcere a Eduardo Cantos, diretor de Carabanchel, quando se produziram os fatos, ao subdiretor Antonio Rubio e a mais 5 funcionários públicos. Outros 3 processados foram condenados a oito, sete e seis anos, respetivamente. E aos médicos José Luis Casas e José María Barigow, dois anos de cárcere, que ocultaram o grave estado de Agustín Rueda atrás da sova. De todos eles, nenhum legou a permanecer nem 8 meses em prisão. Todos eles eram carcereiros durante o fascismo franquista e continuavam a sê-lo com o fascismo entronizado.

O segundo é conhecido como “caso Almería”, um dos episódios mais abjetos e repulsivos daqueles anos. Naquela ocasião, as vítimas foram três jovens trabalhadores de Santander que se tinham trasladado em carro até Andaluzia para assistir à primeira comunhão do irmão dum deles, e que no caminho foram erroneamente identificados como membros de ETA por uma pessoa que acabava de ver em televisão as fotos de três militantes de ETA aos quais se atribuía um atentado em Madrid. Dita pessoa apontou a chapa do seu carro e avisou à Guardia Civil. O resultado não se fez esperar: o 9 de maio de 1981 vários agentes do corpo detiveram aos três jovens em Roquetas de Mar, pensando que eram membros de ETA, e depois de leva-los a uma casa abandonada, os torturaram com tal sanha que em poucas horas os três eram cadáveres brutalmente mutilados. Então, tomaram conhecimento de que não se tratava de modo algum de militantes de ETA, e procederam a camuflar o crime, pelo qual meteram-nos num carro ao qual acenderam fogo, depois de o crivar de balas e o rociar com gasolina. O procedimento judicial esteve cheio de irregularidades, e só graças à entrega e à coragem do advogado que representava às famílias das vítimas, Darío Fernández, quem recebeu numerosas ameaças de morte e incluso teve de morar oculto numa caverna, conseguiu-se que três dos onze guardias civiles implicados fossem condenados por torturas e homicídio, mas não assassinato. O principal processado, o então tenente-coronel Carlos Castillo Quero, recebeu uma sentença de 25 anos de prisão; o tenente Manuel Gómez Torres, outra de 14 anos, e finalmente o guardiã civil Manuel Fernández Llamas, foi condenado a 12 anos. Nenhum deles permaneceu nem um ano em prisão, e claro, com enormes privilégios e prebendas. Entre outras, receber uma gigantesca quantia de dinheiro dos fundos reservados, o que Barrionuevo justificou aduzindo que era um “compromisso” anterior dos falangistas da UCD. Uma pessoa com o mesmo nome e apelidos de um dos assassinos, Manuel Fernández Llamas, condenada a 3 anos de prisão por um delito de lesões, foi indultada no ano 2000. Um não quer ser malicioso, mas…

Finalmente, o chamado “caso Nani”. Para este caso, vou citar os parágrafos da documentada e exaustiva obra de Juan J. Alcalde Os Serviços Secretos em Espanha. A repressão contra o movimento libertário espanhol (1936-1995): “[…] No assunto da “máfia policial” investigaram-se importantes relações de importantes joalheiros como Mariano Loriente e Federico Venero com polícias, à sua vez relacionados com o desaparecimento em dependências policiais dum confidente da polícia, “el Nani”. O chefe da brigada anticorrupção vinculou ante o juiz os casos Nani e aquele do joalheiro Loriente, sequestrado no ano 78 e desaparecido no 83, no qual se viu implicado Messía Figueroa, “el Marqués”, agente dos serviços de informação e já antes implicado no sequestro do também joalheiro Recaredo González Pazos. A máfia policial, formada por antigos agentes da BPS (a polícia política do franquismo), estava implicada no assassinato de mais de 7 pessoas relacionadas com o negócio da joalharia. Atrás da info recebida pelos inspetores (da polícia), os confidentes da polícia assaltavam ou sequestravam joalheiros, alguns dos quais eram à sua vez colaboradores policiais. Uma parte substanciosa do botim de cada roubo ou sequestro devia ser entregada aos antigos agentes da BPS  então integrantes da brigada de informação; em várias ocasiões desfizeram-se dos seus colaboradores para obter uma maior parte do botim… […] houve alguns bodes expiatórios, mas outros implicados como o comissário Ángel Ortega no ano 88 chegava a chefe da academia de polícia. Ou Rodríguez Colorado, quem no mesmo ano acedeu ao cargo de diretor geral de polícia”.

Muitos se terão dado conta de que só citei nomes relacionados com o corpo da Guardia Civil. A continuidade do fascismo manifesta-se em tão odiado corpo militar nas figuras dos homens José Antonio Sáenz de Santamaría e Andrés Casinello. O primeiro deles, General, dedicava-se já nos tétricos e truculentos anos de pós-guerra à persecução e assassinato dos membros das Agrupações Guerrilheiras utilizando, por exemplo, tiopental para conseguir declarações e confissões. É o encarregado, em 1975, dos preparativos para os fuzilamentos do 27 de Setembro. Implicado em todas as tramas de terrorismo de Estado desde meados dos anos 70 até o ano 82, encarregado da “reestruturação democrática” da polícia e da criação dos GEO, é nomeado pelo PSOE-GAL diretor general da Guardia Civil. O “pacto do capô” com os militares exigia, como contrapartida do PSOE-GAL, a centralização e institucionalização do terrorismo de Estado, a aplicação da guerra contra a insurgência, e este punha nos altos cargos aos homens adequados. Implicado nos crimes dos GAL, tendo sido condenado por aqueles cometidos entre 1983 e 1984 para depois ser absolvido, sempre foi um apologista do terrorismo de Estado. Deixou frases célebres como “prefiro a guerra à independência de Euskadi”, aforismo que seguiu ao pé da letra.

Casinello é um dos homens-chave da estratégia contra a insurgência do Estado fascista espanhol. No comando do SECED após o voo com pirueta de Carrero Blanco e a destituição do coronel San Martín (quem, desde fines dos anos 60, junto com Díez Alegría, ia negociando com Carrillo em Romênia a integração do PcE no estado fascista), o seu nome aparece implicado em acontecimentos como a matança de advogados de Atocha ou o  “caso da colza”, assim como em, pelo menos, quatro assassinatos de refugiados bascos. É considerado o fundador dos GAL e o celebro do Plano ZEN (Zona Especial Norte), impulsado pelo PSOE-GAL (um dos seus máximos protetores, o senador Casas, foi abatido pelos Comandos Autónomos Anticapitalistas; como represália, o Estado terrorista revidou com a emboscada criminal de Bahia de Pasaia). Por que este homem? Casinello foi instruído e treinado nas técnicas de guerra contra a insurgência (sequestros, assassinatos coletivos, torturas, desaparições…) em Fort Bragg, a base norte-americana na qual eram treinados os esquadrões da morte latino-americanos nas táticas que os imperialistas franceses tinham utilizado e sistematizado nas guerras de Indochina e Argélia (pouco antes os britânicos em Malásia utilizaram técnicas similares). Ligado a isto, veja-se o excelente documental francês Esquadrões da morte: a escola francesa. Uma das premissas essenciais da guerra contra a insurgência é a divisão por zonas do terrorismo para esmagar o perigo de subversão. Agora, observem que significa o acrônimo “ZEN” do plano citado. A contrarrevolução é também internacionalista…

BIBLIOGRAFIA:

“A sombra de Franco na transição”; Alfredo Grimaldos

“A CIA em Espanha”; Alfredo Grimaldos

“Breve memória-história subjetiva do século XX e XXI”; Erlantz Cantabrana

“25 anos sem Constituição”; Joaquín Navarro

“Transição e repressão política”; Olarieta Alberdi

“História do PCE(r) e dos GRAPO”; VVAA

“Soberanos e intervindos”; Joan E. Garcés

“Torturadores e cia”; Xabier Makazaga

“Os serviços secretos em Espanha. A repressão contra o movimento libertário (1936-1995); Juan J. Alcalde

“Os filhos do 20-N: história violenta do fascismo espanhol”; Mariano Sánchez Soler

Hemeroteca:

A irresistível subida dum suposto torturador: http://www.elpais.com/articulo/espana/M … ac_9/Tes/#

“Manuel Ballesteros punha todo o seu empenho na tortura, era um verdadeiro profissional”: http://www.diagonalperiodico.net/Manuel … ?id_mot=88

Altos mandos policiais procedem da desaparecida Brigada Político-Social: http://www.elpais.com/articulo/espana/R … ac_13/Tes/

O tenente-coronel Masa, detido em Valência acusado de narcotráfico: http://www.elpais.com/articulo/espana/t … ac_26/Tes/

O chefe da Polícia Judicial figura na agenda de J. A. Roca, segundo fontes de investigação: http://www.diagonalperiodico.net/El-jef … icial.html

A Brigada Antigolpe, formada sobre tudo por homens de “Billy el Niño”: http://www.elpais.com/articulo/espana/E … ac_14/Tes/

O contrabandista Txofo assegura que Dorado lhe confessou que Bayo e ele assassinaram a Lasa e Zabala: http://www.elpais.com/articulo/espana/c … ac_13/Tes/

Um sancionado pelo ‘caso el Jomeini’ estará à frente da academia policial: http://www.elpais.com/articulo/espana/C … nac_8/Tes/

Funerais de Estado para um torturador: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=70124

20 anos do assassinato de Miquel Zabala: um crime impune e silenciado: http://www.rebelion.org/noticia.php?id= … ilenciado-

As lutas estudantis de Dezembro de 1979. Em lembrança de José Montañés e Emilio Martínez: Companheiros da alma, companheiros…: http://www.unidadcivicaporlarepublica.e … 201979.htm

Enrique Ruano: http://es.wikipedia.org/wiki/Enrique_Ruano

O comissário José Matute, denunciado por agressão a um colega: http://www.elpais.com/articulo/espana/C … ac_29/Tes/

José Antonio Sáenz de Santa María: http://es.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_ … Mar%C3%ADa

O comissário Roberto Conesa “el  Garbancito”: http://pacosalud.blogspot.com/2008/09/e … sa-el.html

A polícia impediu aos jornalistas fotografar a “Billy el Niño”: http://www.elpais.com/articulo/espana/P … nac_2/Tes/

Caso Almería: http://es.wikipedia.org/wiki/Caso_Almer%C3%ADa

BABEUF87 no foro de RASH Madrid

Portada

BALANCE REPRESSIVO 1975-2010

TRENTA E CINCO ANOS DE “DEMOCRACIA” E SANGUE

BALANCE REPRESSIVO CONTRA O MOVEMENTO DE RESISTÊNCIA POLÍTICO ORGANIZADO

É comum hoje fazer uma espécie de balances sobre o que foram os 35 anos de “democracia” transcorridos no Estado espanhol desde a morte do sanguinário Franco em 1975 em campos e episódios diversos. A prensa servil bate palmas, oculta, mente e tergiversa sobre as “delícias” que esta “transição” e posterior “democracia” supôs para o povo em geral. Dizem “mais liberdades mais riqueza, mais possibilidades de expressão…” Para a classe trabalhadora e suas organizações políticas ou populares foi todo o contrário, claro; e desde SOCORRO ROJO INTERNACIONAL têm uma muito diferente e detalhada análise sobre o que estes 35 anos de passo do fascismo franquista ao fascismo monárquico supuseram.

Balance repressivo contra o Movimento de Resistência Político Organizado. Analisam-se dados sobre as organizações Grupos de Resistência Antifascista Primeiro de Outubro (GRAPO), Partido Comunista de Espanha (reconstituído) (PCE(r)), Socorro Rojo (SR), União de Juventudes Antifascistas (UJA), Organização Democrática de Estudantes Antifascistas (ODEA), Povo e Cultura (PyC), Mulheres Antifascistas (MA), Associação de Familiares e Amigos dos Presos Políticos (AFAPP), e Socorro Vermelho Internacional (SRI).

As fontes analisadas foram inevitavelmente várias, pois a maioria dos arquivos com dados exatos ficam em mãos das forças policiais, após ser confiscadas depois das numerosas detenções realizadas. Foram consultados os bancos de dados do PCE(r), a AFAPP, o SRI, anuários de prensa, tanto oficiais quanto aportados por historiadores que trataram o tema. Daí a anotação “diferentes fontes analisadas”.

Número de detid@s desde 1975 até agosto de 2010: -Entre 3100 e 3500 pessoas (segundo diferentes fontes analisadas), com anos verdadeiramente negros como 1979 com 380 detidos ou 1980 com 176.

Número de encarcerad@s desde 1975 até agosto de 2010: -Entre 1400 e 1420, entre eles os 14 militantes dos GRAPO aos quais se recusou a “Amnistia” de 1977, que supõe uma autêntica exceção do régime.

Número de detid@s torturados e maltratados: -Entre 1500 e 1550. De todas elas, só chegaram a juízo com condenas de polícias: 4.

Militantes assassinados, caídos em combate, por torturas ou por desatenção nos cárceres: -31.

*Militantes do PCE(r) assassinados:

-Juan Carlos Delgado de Codes (1979) pela Polícia.

-Francisco Javier Martín Eizagirre (1979) pelo Batalhão Basco Espanhol.

-Aurelio Fernández Cario (1979) pelo B.V.E.

-José España Vivas (1980) rebentado por torturas na DGS.

-Kepa Crespo Galende (1981) em greve de fome lutando contra o extermínio.

-Txomin Muiños Formoso (1986) por desatenção sanitária em prisão.

-Enrique Álvarez Abalde (2010) por desatenção sanitária em prisão.

*Militantes dos GRAPO assassinados:

-José Vicente Artigues (1976) pela Polícia.

-Pedro Tabanera Pérez (1979) pela Guardia Civil.

-Raúl Calero Arcones (1979) pela Guardia Civil.

-Carmen López Sánchez (1979) pela Guardia Civil.

-Abelardo Collazo Araujo (1980) pela Polícia Nacional.

-Josefa Jiménez Zamora (1981) por torturas policiais quando estava hospitalizada.

-Roberto Liñeira Oliveira (1981) pela Guardia Civil.

-Antonio Cabezas Bella (1981) pela Guardia Civil.

-Dolores Castro Saa (1981) torturada y assassinada pela Guardia Civil.

-Albino Gabriel López (1981) torturado y assassinado pela Guardia Civil.

-Enrique Cerdán Calixto (1981) pela Polícia Nacional.

-Juan Martín Luna (1982) pela Polícia Nacional.

-Luis Rodríguez Martínez (1983), levado ao suicídio, atrás de anos de isolamento total em Herrera de la Mancha.

-Juan García Rueda (1984) pela Polícia Nacional.

-José Manuel Sevillano Martín (1990) em greve de fome lutando contra o extermínio.

-José María Sánchez Casas (2001) por desatenção sanitária em prisão.

-José Ortín Martínez (2009) exterminado em prisão, atrás de 25 anos preso.

-Enrike Kuadra Etxeandia (2010) por desatenção sanitária em prisão.

*Militante do PCE(r) e dos CAA assassinado:

Goyo Fernández Riaño (1979) pela Polícia Municipal.

*Militantes dos GRAPO caídos em ação armada:

-José López Ragel (1976).

-Fausto Peña Moreno (1976).

-Isabel Santamaría del Pino (1993).

-Pedro Luis Cuadrado Delabat (1993).

-Valentín Benito Iñigo (1993).

Militantes com sequelas irreversíveis a causa de ser tiroteados pela polícia:

-4 com paraplegia absoluta.

 

Militantes com sequelas irreversíveis fruto da repressão carcerária:

12 com esclerose múltipla máxima, síndrome de Korsakov o síndrome de Werningke.

 

Militantes com sequelas graves fruto de torturas ou repressão carcerária:

31 com transtornos do movimento, demências y cardiopatias.

 

Militantes com sequelas graves a causa de ser tiroteados pela polícia:

5.

Familiares de militantes torturados, detidos ou mostrados como troféus em delegacia para fazer confessar aos detidos:

-O filho de 2 anos de Juan Martín Luna é levado à sala de torturas, agarrado pelos pés e zarandeado para que o pai falasse.

-O filho recém-nascido e a sua mãe, companheira de Manuel Quesada, são torturados à frente dele para que falasse.

-Os pais e irmãos de Isabel Santamaría, constantemente detidos y soltados para localizar à sua filha clandestina.

-O filho de 3 anos e a mãe de Josefa Alarcón são introduzidos na sala de torturas para que Pepa falasse.

-De 1975 a 2010 cerca de 60 familiares resultaram vítimas das represálias para obter informação dos seus filhos, irmãos ou pais: torturados, ameaçados, golpeados, destroçadas as suas pertenças, detidos no cemitério ao visitar a seu familiar assassinado… guerra suja sem detenção, para não deixar “rastos” legais:

15 mães, irmãos, filhos foram detidas e algum deles torturado. À mãe de Xaquin González lhe partiram vários ossos.

Militantes presos extraditad@s por outros países ao Estado espanhol:

-14 desde o Estado francês.

Militantes excarcerados de prisão e levados a mãos policiais para novas torturas:

-3; em 1976, 1978, 1979.

Guerra suja aberta:

-2 assassinatos em Paris pelo BVE.

Várias bombas contra carros de advogados de presos.

-3 sequestros: em 1979, Pedro Emilio Ruiz Serrano; em 1983, Pepe Balmón; em 1990 Jesús Cela Seoane. Todos eles por grupos para-policiais como o GAL verde.

-2 presos políticos sofreram o GAL carcerário.

-40 militantes ou simpatizantes foram ameaçados por bandos fascistas, com envelopes com balas, campanhas organizadas ou ameaças abertas. Brutal surra ao pai de Isabel Santamaría.

Meios de comunicação vítimas de represálias, fechados ou ilegalizados. Material confiscado às organizações políticas e solidárias, que não têm nada a ver com qualquer atividade armada:

-Revista CRASH, editada por pessoas alheias à militância.

-Revista ÁREA CRÍTICA, cujo diretor foi encarcerado e foi fechada oficialmente, editada por gente alheia à militância ativa.

-Boletim A LA CALLE, editado pela AFAPP.

-Revista SOLIDARIDAD, editada pelo SRI.

-Revista BANDERA ROJA, editada pelo PCE(r).

-Revista GACETA ROJA, editada pelo PCE(r).

-Revista RESISTENCIA, editada pelo PCE(r).

-Revista ANTORCHA, editada pelo PCE(r).

-Umas 40 toneladas de propaganda escrita, confiscadas em, pelo menos, 500 acuações policiais, entre elas os meios de comunicação de SR, UJA, PyC, ODEA e MA.

-Uns 100 aparatos de propaganda, confiscados em, pelo menos, 70 atuações policiais, entre eles os pertencentes a SR, UJA, PyC, ODEA, MA, AFAPP e SRI.

Organizações políticas e sociais vítimas das represálias, ilegalizadas ou desmanteladas:

-1977: desmantelado até a sua desaparição, a base de repressão e encarceramentos, o Socorro Rojo.

-1978: desmantelada até a sua desaparição, a base de repressão e encarceramentos, a ODEA.

-1979: desmantelada até a sua desaparição, a base de repressão e encarceramentos, a UJA.

-1980: desmantelada até a sua desaparição, a base de repressão e encarceramentos, Mujeres Antifascistas.

-1981: desmantelado até a sua desaparição, a base de repressão e encarceramentos, Pueblo y Cultura.

-2003: ilegalizado o PCE(r). Desde 1975 tinha sido uma organização alegal e clandestina.

-2005: tentativa de ilegalização pela política de “fatos” de AFAPP e o SRI. Nunca se permitiu sequer o registo legal de estas duas organizações.

-2008: campanha repressiva contra o SRI, com o encarceramento de vários dos seus militantes e forte campanha de criminalização.

-2009-2010: concatenação de juízos contra o PCE(r), com condenas de até 80 anos no «tudo é GRAPO».

  

Podem seguir a nos bombardear com os supostos méritos destes 35 anos transcorridos, mas para a resistência antifascista e comunista foram anos de luta, sofrimento e torturas.  Que estes dados não caiam no esquecimento. As liberdades arrancadas pelo povo trabalhador o foram também graças ao esforço de estes homens e mulheres e suas organizações. 35 anos de luta e resistência não foram em vão.

Atualizado a agosto 2010